Espólios de Guerra

A Alemanha confirma o favoritismo, muito à semelhança de outro candidato ao título europeu, a França, com duas vitórias e um empate a 0 com o 2º classificado do grupo, ficando com os mesmos pontos da Polónia, mas com mais um golo no balanço. A Alemanha apresenta-se outra vez muito forte numa fase final, desta vez sem ainda o demonstrar nos resultados e a desperdiçar mais oportunidades de golo do que habitual mas, mesmo assim, a praticar um futebol do mais alto nível e com uma profundidade de plantel que não tem rival neste Euro 2016. A equipa de Joachim Low sente-se igualmente confortável com ou sem bola, sendo uma das poucas seleções com qualidade suficiente para atacar de forma coordenada e metódica e atacar em transição rápida, sendo perigosa e efetiva nos dois estilos de jogo. A eficácia fica, no entanto, como o ponto menos forte apresentado até agora pela seleção germânica. Como dissemos, é uma seleção que cria muitas oportunidades mas, à semelhança de Portugal, nesta primeira fase do Euro 2016, está a ter dificuldades no momento da finalização. 3 golos marcados em 3 jogos é pouco para aquilo que o Mundo ficou a saber possível para a Alemanha em 2014. Responsabilidades podem ser repartidas por todos os jogadores do meio-campo e ataque, com Muller, Ozil, e Gomez a jogarem muito bem mas a falharem alguns lances de golo evidente. No entanto, parece-nos que tanto Gotze, Draxler e Schurrle têm sido os mais perdulários e com evidente quebra de forma ou falta de adaptação ao estilo de jogo ou aos seus colegas. Leroy Sané e Julian Weigl, ambos jovens de 20 anos com boas épocas nos respetivos clubes (Shalke e Dortmund), que ainda não jogaram podem ser alternativas para a fase de eliminação caso esta situação continue.
A Polónia confirma-se como o segundo melhor deste grupo e, de uma forma melhor do que se esperava, sendo o primeiro e único 2º classificado de um grupo neste Euro 2016 a conseguir 7 pontos. Uma fase de grupos sem derrotas conseguida através de um empate 0-0 contra a Alemanha, através de uma boa defesa e consistência tática. Como a seleção Alemã, no entanto, é também uma equipa que parece não muito eficaz ofensivamente, com Lewandoski a ainda não ter conseguido nenhum golo marcado e com Milik, apesar de ter feito um dos únicos 2 golos da seleção polaca, a ser uma figura muito pálida no acompanhamento ao homem do Bayern Munique. É um 4-4-2 clássico que consegue ser muito compacto e impede a criação de espaços entre os defesas e os médios sendo que a única ameaça à sua baliza provém, normalmente, de situações em que os seus adversários aproveitam o adiantamento no terreno de um dos laterais Jedrzejczyk ou Piszczek, muito ofensivos por natureza. É uma seleção que apresenta nas bolas paradas o seu ponto mais forte, quer a defender, com Lewandoski e Milik a porem a sua altura ao serviço da defesa, quer a atacar, o que fazem de maneiras diferentes, quer optando pela jogada estudada, pelo cruzamento ao segundo poste ou pelo canto curto, dificultando assim a execução defensiva da equipa contrária.
A Irlanda do Norte consegue aqui um resultado histórico na sua estreia num Campeonato Europeu de futebol. Apenas a vitória contra a Ucrânia e os 3 pontos num grupo com adversários que teoricamente os humilhariam seria motivo de celebrar. Um golo sofrido face a cada uma das seleções mais fortes do grupo, equipas essas que são teoricamente tão superiores à sua seleção como o céu e a terra, já era um feito grandioso. E, se não bastasse, com os resultados do Grupo D, apuram-se em 3º lugar para a próxima fase do Euro 2016. Parece-nos que ninguém conseguirá pôr fim à enorme festa que a Irlanda do Norte fará neste verão, independentemente dos próximos resultados. É uma das muitas seleções que, compreendendo o seu estatuto e capacidade reduzidos, aposta em 90 minutos de defesa e contenção. Joga num 4-4-2 mas em que todas as linhas jogam muito aproximadas e atrás da bola, mostrando grande sacrifício a nível individual e privilegiando sempre a organização defensiva e o espírito coletivo. Espera depois por 1 ou 2 oportunidades, especialmente nos lances de bolas paradas como foi o seu 1º golo frente à Ucrânia (tendo o 2º surgido numa fase do jogo em que a seleção ucraniana estava completamente desequilibrada na busca frenética pelo golo e pela vitória que dela se esperava), para fazer golo. É uma boa surpresa e, se o seu estilo de jogo é pouco atrativo, no futebol são os resultados que importam e a Irlanda do Norte pode estar muito orgulhosa do que os seus jogadores já conseguiram alcançar neste Euro 2016.
A Ucrânia, que fica em 4º lugar deste grupo C e eliminada desta edição do Campeonato Europeu de Futebol, é um pouco a antítese da Irlanda do Norte, praticando em todos os 3 jogos deste grupo futebol muito bonito, intenso e de qualidade mas fazendo 0 golos, sofrendo 5 e tendo sido eliminada com 0 pontos (é a única seleção de qualquer grupo a não conseguir 1 único ponto e poderá também ser a única a fazer 0 golos se a Áustria marcar no seu próximo jogo). É um Europeu para esquecer para um seleção que tem muito talento e que, lentamente mas seguramente começa a criar expetativas no seu país e no panorama internacional sobre as suas capacidades. Mas, como dissemos anteriormente, são os resultados que mais importam no mundo do desporto e, por isso, frutação e desilusão serão os sentimentos mais normais para esta equipa e para a Ucrânia em geral. Há que sublinhar, no entanto, que, ao contrário da Rússia, não nos parece ser um problema estrutural - criação de talento nacional, estruturas desportivas ou outros elementos aparte do futebol -, e com algum trabalho a nível tático, integrando melhor algumas das jovens promessas ucranianas e fortalecendo o espírito de equipa e o sentido coletivo, é provável que estejam presentes no próximo Campeonato do Mundo e façam melhores prestações. Não nos parece que seja um bom passo o despedimento do selecionador Fomenko e é de realçar o talento demonstrado mais uma vez pelo Kovalenko, Yarmolenko, Konoplyanka e Zynchenko.
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