Assim se contrata(va) no Benfica

Assim se contrata(va) no Benfica

"Jorge Mendes perguntou-me onde queria jogar. Dois dias depois assinei pelo Benfica"

"O Jorge Mendes tinha sido o meu único empresário desde os 16 anos e o nosso contrato estava a acabar. Estava num período em que senti que não tive tanto apoio quanto o que precisava e foi quando apareceu outro empresário, através do Gaspar (central do Rio Ave), que estava interessado em representar-me.

Fui falar com ele e gostei da abordagem. Disse que ia pensar, mas que à partida ia ficar com ele. Esta conversa foi num café ali na Foz e, quando estou a chegar a casa com o meu pai, liga-me o Camacho, que trabalha para o Jorge Mendes, a perguntar se eu ia trocar de empresário.

E eu “Fod*-se, como é que já sabes?”.

“É que o Vice-Presidente do Rio Ave ligou-me a dizer que a partir de agora tens outro representante”.

Disse-lhe que apesar de ainda não ter assinado nada, ia assinar por ele, ao que ele me responde para esperar que o Jorge me ia ligar. Não falávamos para aí há uns três anos e passado uma hora tinha uma chamada de um número com indicativo espanhol.

“Então Fábio, já assinaste pelo Artur?”, perguntou-me o Jorge.

Disse-lhe que ainda não, ao que ele me respondeu “Então não assines, porque tenho umas coisas boas para ti”… aquelas abordagens normais do Jorge, que não deixa ninguém falar... mas ele é mesmo convincente!

Disse-lhe que nunca se preocuparam comigo quando não jogava e que só se lembraram de mim porque ia mudar de empresário… “Então o que é que vais fazer amanhã à noite? Não marques nada porque vais jantar a minha casa e traz o teu pai”.

A meio do jantar, pergunta-me “Onde é que querias jogar?”.

E eu “Ó Jorge, sou do Benfica desde pequeno, mas há outros clubes na Europa que também me agradavam”.

“Gostaste de estar no Chelsea? Percebes inglês? Espera aí, vou ligar a uma pessoa”. Ligou para o Peter Canyon (ex-diretor-desportivo do Chelsea) e começou a perguntar-lhe se se lembrava de mim porque já lá tinha ido treinar e mais não sei quê.

“Não o queres? Então vais ver para onde é que ele vai!”. Depois do jantar, trouxe-me um contrato e assinei por mais dois anos com ele.

Isto foi numa quarta-feira. Na sexta-feira, depois do treino, tenho quatro chamadas dele. Afastei-me do grupo, porque já sabia mais ou menos qual era o motivo da chamada, e quando lhe ligo ele pergunta-me onde é que eu ando e se conseguia estar em Lisboa ao final da tarde.

Disse-lhe que conseguia, mas tinha jogo no dia seguinte. Ele disse-me para não me preocupar e que estava tudo resolvido, tranquilizou-me.

Falei com o meu pai, metemo-nos no carro e, quando estamos a chegar à Expo, o Camacho liga-me e pergunta-me se sou eu quem está a conduzir; disse-lhe que não, e ele perguntou-me se conseguia passar para o banco de trás para ninguém me ver. Quando chego ao local, entro por uma garagem e ele e o Jorge vêm buscar-nos. Quando saio do elevador, estou no escritório do Luís Filipe Vieira."

- Fábio Faria, em entrevista à Bola na Rede