Golos, falemos de golos em Portugal
«Em Portugal marca-se mais do que nas cinco maiores ligas da Europa. Domingos e Nelo Vingada acham que isso reflete cada vez maior diferença entre os quatro primeiros e os restantes
A Liga portuguesa tem neste momento uma média de golos superior à dos cinco principais campeonatos disputados na Europa. Em 225 jogos marcaram-se 614 golos, o que corresponde a 2,73 remates certeiros por partida, o que, tendo em conta os campeonatos disputados neste século, representa a a segunda melhor marca em 18 temporadas, apenas superada pela época 2012-13, na qual se atingiu uma média de 2,78 golos por jogo.
Quer isto dizer que o futebol de ataque se impôs como filosofia privilegiada pelos técnicos e equipas portugueses? Que há melhores intérpretes? Segundo dois treinadores ouvidos pelo DN, o cenário é bem menos agradável e este aumento do número de golos visto até com preocupação, como um sintoma de menor competitividade.
"Os principais responsáveis pelo aumento dessa média são os quatro primeiros classificados - FC Porto, Benfica, Sporting e Sp. Braga -, porque a diferença entre eles e as outras equipas são cada vez maiores", garantiu Domingos Paciência, que orientou o Belenenses até à 18.ª jornada. Nelo Vingada, que é um observador à distância deste fenómeno, pois desde 2016 não trabalha em Portugal, também defende esta ideia, considerando mesmo que "há uma diferença abismal" entre os quatro primeiros e as restantes equipas da tabela, o que "tem permitido sucessivos resultados volumosos". "Até há pouco tempo, quando havia um 3-0 já se dizia que era uma goleada, mas agora estamos a voltar aos tempos das goleadas a sério", acrescenta o técnico de 65 anos, ex-selecionador da Malásia.
Há um indicador que explica em grande medida esta assimetria e que se relaciona com o saldo de golos das equipas da I Liga. Na prática, só FC Porto, Benfica, Sporting e Sp. Braga têm uma diferença positiva entre golos marcados e sofridos, sendo que dez equipas marcaram menos de 30 golos nas 25 jornadas já disputadas, enquanto 14 sofreram mais de três dezenas de golos. "Esses dados confirmam precisamente o distanciamento cada vez maior entre esses quatro grandes e os restantes", sublinha Nelo Vingada, alertando para "a cada vez menor competitividade" do campeonato nacional. Domingos Paciência, 49 anos, alerta que "o fosso pontual do Sp. Braga para o quinto classificado [o Rio Ave] é já de 18 pontos, mais do que a diferença que tem para o líder", o que, em sua opinião, representa uma realidade que é preciso inverter: "O campeonato está nivelado por baixo, o que explica o facto de haver defesas com muitos golos sofridos."
Reflexos a nível internacional
Domingos revela preocupação em relação às consequência das assimetrias competitivas no campeonato português. "As equipas grandes vão sentir cada vez mais dificuldades a nível internacional e a prova disso é que temos vindo a perder posições no ranking da UEFA. Isso é reflexo da menor competitividade interna."
Nelo Vingada considera que o fosso no campeonato "tem tendência a aumentar", por questões económicas. "É fundamental uma distribuição das receitas de forma mais equitativa e o G15 tem sido uma tentativa de procurar um novo equilíbrio por parte dos clubes mais pequenos", sublinha, algo que merece a concordância de Domingos Paciência: "Os clubes vivem muito apertados financeiramente e qualquer jogador que comece a fazer a diferença é logo vendido, o que diminui ainda mais a competitividade."
Assim sendo, o ex-treinador do Belenenses defende também "uma maior distribuição das receitas para que haja uma maior aproximação às condições com que os três grandes competem".
Em termos comparativos com as restantes ligas, a italiana é aquela que se aproxima mais da média de golos portuguesa, com 2,71 por jogo, seguido de Inglaterra e Espanha (2,69), Alemanha (2,68) e França (2,63).
No que respeita a clubes, FC Porto (2,72 golos por jogo) e Benfica (2,68) só são ultrapassados em produção ofensiva por dois clubes das cinco principais ligas europeias: o PSG, que passeia superioridade em França ao ritmo de 3,07 golos por jogo, e o Manchester City, que na competitiva Premier League consegue fazer 2,86 golos/jogo.»
1 comentários:
Nas 4 equipas da frente também tudo o que se destaca é vendido, daí a perda de competitividade a nível internacional.
7 de março de 2018 às 14:01Por outro lado os organismos de topo no futebol, cada vez afunilam mais os critérios de participação nas suas competições, privilegiando os confrontos entre as super-equipas que dão mais receitas. Receitas essas que vão recair sobre essas super-equipas aumentando os recursos para desfalcar os clubes das ligas mais débeis.
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