O mundo escuro dos empresários: o exemplo do FCP
Hoje vou perder um pouco de tempo na análise ao relatório e contas da F.C. Porto SAD que serve de exemplo para explorar um tema que me tem preocupado: os negócios que envolvem os passes de jogadores de futebol, um verdadeiro mundo escuro fora da juízo dos sócios dos clubes de futebol. As negociatas com os empresários, as vendas de percentagem dos passes dos jogadores e as compras e recompras com fundos estrangeiros. Serve de exemplo o FCP mas sei que nos outros clubes grandes é tudo muito parecido.
De forma geral, a SAD do FC Porto fechou o exercício 2011/12 com um capital negativo de 10,1 milhões de euros, depois de ter registado prejuízos de 35,7 milhões.
No comunicada enviado à CMVM, a sociedade adverte que as contas fechadas a 30 de Junho não beneficiam das mais valias registadas com as vendas de Hulk para o Zenit por 40 milhões e de Álvaro Pereira para o Inter de Milão, por €10 milhões.
Outro factor do exercício é o agravamento do passivo em 21,3 milhões de euros, que já vai nos 223 milhões mas esta questão das dívidas dos clubes é assunto para outro artigo.
A análise que o site Maisfutebol fez ao relatório permite perceber alguns aspetos curiosos sobre a vida financeira do clube da Invicta: permite perceber por exemplo quanto se pagou em comissões a empresários, qual foi o saldo da venda de parte dos passes a fundos de investimento ou quais foram as remunerações da administração.
Refira-se que o F.C. Porto contratualizou um total de 18 milhões de euros de pagamento a empresários, divididos entre 11,09 milhões de euros de comissões relativas a contratações e renegociações de contratos e 6,84 milhões de euros com comissões relativas à vendas de atletas.
Antes de mais, Cristián Rodriguez. Numa altura em que já estava afastado do plantel, e naquela que terá sido a última parcela de uma aquisição dividida em várias tranches, o F.C. Porto teve de pagar no período terminado a 30 de Junho de 2012 ainda 2,52 milhões de euros à Play International BV.
Mas há mais: a renovação e posterior venda de Falcao ao At. Madrid, por exemplo, custou mais de 6,8 milhões de euros em comissões a empresários, divididos entre três agências. O colombiano, já se sabia, foi vendido por 40 milhões de euros, dos quais apenas 20,1 entraram nos cofres portistas.
Para além de Falcao, destacam-se na rubrica referente a pagamentos de comissões a empresários os gastos com as contratações de Danilo (4,83 milhões de euros), Defour (1,85 milhões), Mangala (1,02 milhões), Alex Sandro (700 mil euros), Kléber (665 mil) e Marc Janko (271 mil euros).
Por falar em contratações, importa dizer que o F.C. Porto contratualizou na última época aquisições que perfazem um total de 56,7 milhões de euros, sendo que este valor é total: inclui a soma do valor de aquisição do passe, o prémio de assinatura e o pagamento de comissões a empresários.
Danilo, já se sabia, foi o mais caro: 17,8 milhões de euros no total por cem por cento do passe. Segue-se Alex Sandro (10,3 milhões por cem por cento do passe), Defour (7,8 milhões por 90 por cento), Mangala (7,5 milhões por 90 por cento) e Kléber (4,2 milhões por 70 por cento do passe).
Nas vendas temos que João Moutinho rendeu na última época uma perda de 1,52 milhões de euros: o clube vendeu 37,5 por cento do passe a um fundo de investimento por 4,12 milhões de euros, tendo adquirido depois 22,5 por cento por um montante que percentualmente representou uma perda de 1,52 milhões.
O mesmo se passou, de resto, com Fucile. O F.C. Porto vendeu 25 por cento do passe ao Soccer Invest Fund, detido pela empresa MNF Gestão de Activos, por 500 mil euros, tendo posteriormente comprado 20 por cento da parcela do passe anteriormente vendida por um milhão de euros.
Em contrapartida, Vieirinha em garante rendimentos ao F.C. Porto. O extremo vendido ao PAOK garantiu durante o exercício finalizado em 30 de Junho um valor superior a um milhão de euros, relativo à venda ao Wolfsburgo de 35 por cento do passe que a SAD portista ainda detinha do atleta.
O título nacional garantido pelo F.C. Porto na última época rendeu, como sempre acontece, um prémio individual a cada elemento do plantel (entre jogadores, equipa médica e técnica). Ora de acordo com o relatório e contas, o F.C. Porto irá pagar 8,78 milhões de euros no total. Refira-se, de resto, que o título do ano anterior ficou mais barato: 7,29 milhões.
Outro dado interessante do relatório e contas é relativo ao valor do plantel. Em 30 de Junho de 2012, o grupo de 41 jogadores que fazem parte do plantel portista estava avaliado em 99,2 milhões de euros, mais 1,5 milhões de euros do que valia o grupo de 36 jogadores da época anterior.
Os valores referidos não se referem ao valor total do jogador, mas ao valor da percentagem de passe que o F.C. Porto detém de cada atleta. Ora a 30 de Junho de 2012, o F.C. Porto só detinha, por exemplo, 55 por cento do passe de James Rodriguez. Segue-se uma lista dessas percentagens:
Danilo - 100 por cento
Alex Sandro - 100 por cento
Otamendi - 100 por cento
Maicon - 100 por cento
Rolando - 85 por cento
João Moutinho - 85 por cento
Fernando - 80 por cento
Kelvin - 75 por cento
Kléber - 70 por cento
Souza - 70 por cento
Defour - 56,7 por cento
Mangala - 56,7 por cento
James Rodriguez - 55 por cento
Iturbe - 45 por cento
O F.C. Porto explica ainda no relatório e contas que na última época, até Junho de 2012, conseguiu baixar os gastos com o pessoal: uma diminuição de 500 mil euros: de 50 milhões para 49,5 na última época.
De acordo com o relatório enviado à CMVM, Pinto da Costa foi o mais bem pago da administração azul e branca, na qualidade de presidente, tendo recebido 400 mil euros. Os outros três administradores pagos (Adelino Caldeira, Reinaldo Teles e Angelino Ferreira) receberam 60 por cento desse valor: 240 mil euros.
Para além de algumas curiosidades destaco toda o negócio que envolve os passes dos jogadores de futebol. O desporto rei está transformado num verdadeiro capitalismo selvagem em que muito do que se passa está escondido em transações obscuras e que não servem, acima de tudo, os interesses da Instituição/Clube em questão. Como sabem sou benfiquista mas uso o exemplo do maior rival porque penso que se passa algo muito semelhante no SLB.
Por exemplo é público que o Benfica só detém 20% dos direitos de Ola John, jogador que ainda nem jogou pela equipa principal e que foi contratado por 9 milhões de euros. Ora ele foi contratado pelo seu valor desportivo ou já para se fazer o negócio com um fundo de investimento?
É urgente que o nosso Estado passe legislação sobre este assunto, proibindo, por exemplo que os clubes tenham menos de 60% ou 70% do passe dos jogadores. E é necessário que os dirigentes dos clubes explicam aos sócios em que medida estas parcerias com fundos de investimento são necessárias para que os clubes continuem competitivos. Já para não falar das percentagens brutais que ficam nos bolsos dos empresários aquando das transferências entre clubes. A FIFA precisa de fazer algo em relação a estes agentes do mundo do futebol.
3 comentários:
Já que ninguém lançou, lanço eu a pergunta, porque achas que a FIFA nada faz? Detém a FIFA um controlo total sobre o futebol mundial, ou estará ela por sua vez, também nas mãos de grandes grupos de interesses.
20 de outubro de 2012 às 19:16É nos bastidores que se ganham nos negócios, e na FIFA penso ser igual.
Mas atenção, isto é apenas um devaneio de um adepto, que não se faz acompanhar de qualquer prova. Apenas exponho duvidas que me parecem pertinentes.
... e as despesas com fruta, chocolate, quinhentinhos, etc.?
21 de outubro de 2012 às 09:37As despesas extras que o Anónimo de 21 de Outubro se refere, não são contabilizadas para a gestão do clube em questão, assim como o não são para o SLB e nem demais clubes de futebol.
24 de outubro de 2012 às 15:08Enviar um comentário
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