«O SCOUTING DO BENFICA E LUÍS CAMPOS
Em 2017-2018 jogavam no Campeonato Argentino German Conti, Cristian Lema e Lisandro Martinez. Todos jogavam em equipas do meio da tabela. O Colón de Conti ficou em 11º, o Belgrano de Lema ficou em 13º e o Defensa y Justicia ficou em 9º. Os três jogadores fizeram entre 24 e 28 jogos pelas respectivas equipas. O Benfica decidiu contratar Conti e Lema. Conti veio a 3.5M. Lema veio a custo zero - apesar de já sabermos que isso implica um prémio de assinatura maior. O Defensa y Justicia assinou em definitivo com Lisandro Martinez nessa altura que estava emprestado pelo Newell’s por 2M. Seis meses mais tarde, o Ajax iria contratar o argentino deixando-o ficar na Argentina até ao final da época. Hoje o Lisandro Martinez é titularíssimo no Ajax, já é internacional argentino, fazendo até várias posições. O Lema está emprestado ao Newell’s e o Conti tem 10 jogos pelo Benfica.
O Benfica foi à Argentina procurar centrais. Os responsáveis do clube devem ter visto vários jogos, mas acabaram por trazer dois jogadores perfeitamente banais que não tinham lugar no Vitória de Guimarães, quanto mais no Benfica, deixando o craque para o Ajax. Parece mais que o Benfica viu a notícia que Lema e Conti tinham sido os dois melhores centrais da Argentina e nem viu os jogos.
Enganem-se se pensarem que isto é caso único. Em 2017 o Benfica contratou para a equipa principal Bruno Varela (que está emprestado ao Ajax), Mile Svilar (que está a jogar na equipa B), Douglas (que está no Besiktas), Mato Milos (que assinou em definitivo pelo Aves), Filip Krovinovic (que está emprestado ao WBA), Gabriel Barbosa (que está no Flamengo) e Haris Seferovic. Em Janeiro de 2018 foram buscar um sueco ao Malmo que não chegou a jogar e já voltou ao Malmo. No verão de 2018, fomos buscar Vlachodimos, Corchia (que o Sevilla emprestou ao Espanyol), Ebuehi (que ainda não se estreou na equipa principal), Conti, Lema (que está emprestado no Newell's), Gabriel, Alfa Semedo (que está emprestado ao Nottigham), Nicolas Castillo (que já vendemos ao América) e Facundo Ferreyra (que está emprestado ao Espanyol). Ou seja, sobram Vlachodimos, que tentámos substituir durante o último verão, Svilar, Conti, Gabriel e Seferovic. Desses talvez o Svilar (numa perspectiva de potencial), o Gabriel e o Seferovic sejam os únicos jogadores com talento acima da média (e o Seferovic aqui pesa bem mais a sua época passada e não a deste ano ou a do primeiro ano).
Bem sei que é impossível acertar todas as contratações. Mas falhar quase todas só é possível perante uma dose monumental de incompetência. É nessa realidade que nós estamos. O Benfica é extremamente incompetente a contratar. Não podem dizer que é porque pagamos pouco, porque o Ferreyra veio receber um salário astronómico para a realidade dos clubes fora do top15 europeu. Nós contratamos mal porque o nosso scouting é mau. Basta ver o exemplo inicial que dei onde trouxemos dois centrais de um Campeonato e mesmo assim deixámos o melhor lá. Mesmo quando o nosso scounting descobre talento é quase por acaso. Basta relembrar que descobrimos o Chiquinho na Académica e oferecemos 50% do passe dele ao Moreirense no mês seguinte, para um ano depois irmos lá buscá-lo de novo. Ninguém tem uma bola de cristal. Mas falhar assim tanto é demais.
Nesta mesma altura, Luís Campos, um infame treinador português, começou a trabalhar como Director Desportivo do Lille. Em 2017-18 o Lille foi buscar Nicolas Pépé que vendeu ao Arsenal por 80M, Kévin Malcuit que já vendeu ao Nápoles por 12M e Thiago Mendes que já vendeu ao Lyon por 22M. Em 2018-19 foi buscar o Zeki Celik, que é um dos laterais direitos mais promissores do mundo, Jonathan Bamba a custo zero que fez 41 jogos e 14 golos, e Rafael Leão que já vendeu 23M ao AC Milan. Este ano já foi buscar Tiago Djálo, Renato Sanches, Yusuf Yazici e Victor Osimhen que têm sido titulares no Lille. O Osimhen leva 7 golos. O Yazici já se fartou de fazer assistências. O Lille é hoje uma referência na Europa, como nós somos, de talento jovem. Vive assente dentro de uma estratégia de Luís Campos que é inegável que tem resultados incríveis. O Lille sabe descobrir talento como poucos clubes o fazem.
Já nós, vivemos do que o Seixal nos dá. Se for muito bom e jogue na frente de ataque já sabemos que só dura até o próximo mercado abrir. Se for muito bom e jogue atrás talvez dure um ou dois anos. Se não houver nada, metemos o nosso scouting a trabalhar e garantimos que temos um cepo a jogar no Benfica.
O nosso scouting é hoje um dos nossos principais problemas. O Benfica não sabe descobrir talento. É péssimo a fazê-lo. Vivemos em exclusivo do Seixal. Não há estratégia nenhuma. Não há ideias. Não há planos. É isto que é o Benfica em 2019/2020. O Benfica está podre a nível de scouting porque não há accountability nesta área. Corre bem? Boa. Corre mal? Boa na mesma. Ninguém sai responsabilizado. É incrível como andamos há anos a contratar mal mas nunca ninguém é despedido. E isto tem efeitos no nosso futebol. Nós vamos sentir isto na pele muito em breve. A nossa equipa sem o João Félix já metia dó. Agora sem o Rafa também vai ser doloroso de assistir.
O Benfica precisa urgentemente de um Director Desportivo. Alguém que acima de tudo assuma as responsabilidades por contratar jogadores péssimos. Alguém que pense nas transferências que faz no curto, no médio e no longo prazo. Estamos na nossa melhor fase a nível financeiro. Temos capacidade para gastar 40M em dois jogadores. Mas mão conseguimos tirar rendimento do dinheiro que investimos. Temos que dar o próximo passo. Há dois homens que me parecem indicados para o trabalho e que acredito que estejam bem dentro do nosso alcance, bem como estariam interessado: José Boto ou Luís Campos. Numa altura em que as eleições se aproximam, deixo o desafio às eventuais candidaturas para que apresentem nomes para Director Desportivo. Deixem o Futebol para quem percebe de Futebol e que o Presidente se foque na estratégia global do clube.»