Só no meu Benfica é que não há dinheiro...
«Nunca os clubes das chamadas big five gastaram juntos tanto dinheiro em contratações. A 48 horas do fecho do mercado, já foi batido o recorde de milhões investidos em reforços para a época que agora se iniciou.
A Premier League é o campeonato que mais gasta (1,33 milhões), o PSG contratou Neymar, o jogador mais caro de sempre da história do futebol (222 milhões), e está quase a oficializar Mbappé, numa época em que em Itália também existiu um forte investimento. Entenda melhor o contexto de cada um dos principais campeonatos europeus.
Se em Inglaterra o sistema de direitos televisivos centralizados gera um bolo de 2615 milhões, em Itália esse valor é de pouco mais de 900 M, cerca de um terço. E como apenas 40% é distribuído em partes iguais pelos clubes e os outros 60% em duas fatias iguais referentes a resultados desportivos e implantação social, a repartição é mais desigual. Se a hexacampeã Juventus tem aproveitado para reforçar muito mais a conta bancária em relação aos outros emblemas, gigantes adormecidos como Inter e AC Milan têm beneficiado recentemente de investimento chinês. O magnata Zhang Jindong tornou-se acionista maioritário dos nerazzurri em junho de 2016 e em pouco mais de um ano já desembolsou cerca de 236 milhões de euros, entre os quais 40 milhões na compra do passe de João Mário ao Sporting.
Já o compatriota Li Yonghong decidiu adquirir os rossoneri a Silvio Berlusconi, numa operação que ficou completa em abril, e nesta janela do mercado de transferências gastou 194 milhões de euros - 38 milhões entraram nos cofres do FC Porto, a propósito de André Silva -, um valor mais elevado do que qualquer outro magnata do futebol mundial no primeiro ano no poder. Para esta temporada, o AC Milan apareceu com uma equipa praticamente nova, demonstrando enorme pujança ao recrutar Bonucci, que era uma das figuras da Juventus.
A poucas horas do fecho do mercado, ainda podem haver mexidas significativas. O médio português André Gomes está próximo de trocar o Barcelona pela vecchia signora, que ainda procura encontrar o substituto ideal de Bonucci para o centro da defesa, com o alemão Howedes (Schalke 04) no topo da lista.
Gastos em transferências: 795, 4 milhões/Encaixes em transferências: 617,02 milhões
Inglaterra: Magnatas e bolsos cheios com direitos televisivos
Mais uma vez com grande distância para as demais, a Premier League vai voltar a ser a liga em que mais se investiu em transferências. 1330 milhões de euros é muito dinheiro, mas corresponde apenas a cerca metade do que os clubes encaixaram em 2016-17 em direitos televisivos: 2615 milhões. 50% do bolo é distribuído em partes iguais pelos 20 clubes, enquanto 25% é dividido em função do número de jogos televisionados e outros 25% repartidos consoante a classificação obtida. Feitas as contas, este modelo valeu 164 milhões ao campeão Chelsea, mas proporcionou um encaixe de 101,9 M ao lanterna vermelha Sunderland, dando a todos os clubes um poder de compra difícil de igualar noutros campeonatos. Além das receitas televisivas, há as de bilheteira - taxa de ocupação dos estádios é de 95,22% -, contratos com fornecedores e patrocinadores - Manchester United assinou em 2014 com a Adidas o maior contrato de sempre entre uma marca desportiva e um clube de futebol: 944 milhões de euros em 10 anos - e, claro, o investimento dos magnatas que se tornaram donos de vários emblemas. O russo Roman Abramovich deu um passo em frente, quando adquiriu o Chelsea em julho de 2003 e, desde então, já gastou 1,59 mil milhões de euros. O árabe Sheikh Mansour chegou cinco anos depois ao Manchester City, mas está perto de ultrapassar o rival, pois já investiu 1,51 mil milhões em reforço do plantel. Um pouco mais contida tem sido a família norte-americana Glazer, que em maio de 2005 adquiriu o Manchester United, que em 12 anos desembolsou 1,18 mil milhões - um valor que pode subir nos próximos dias, pois Mourinho tem Bale em ponto de mira.
Gastos em transferências: 1 330 milhões/Encaixes em transferências: 683,43 milhões
França: PSG a bater recordes com o Mónaco a dar lucro
Nasser al-Khelaifi, o milionário qatari que se tornou dono do PSG em 2011, tinha um sonho: transformar o clube numa potência mundial. Nos últimos anos fez um forte investimento, mas nunca como neste defeso: pagou 222 milhões por Neymar e já tem garantido Mbappé (empréstimo do Mónaco para controlar o fair play financeiro, mas com a certeza de que no final da época terá de pagar 180 milhões). O objetivo é, além de recuperar o título perdido para o Mónaco, tentar vencer a Champions. E para isso conta com Antero Henriques, homem forte do futebol do FC Porto durante anos, que está a revolucionar a política de contratações do clube da capital francesa. Nunca como este defeso o mercado francês foi tão badalado. Se o PSG se destaca pelos gastos exorbitantes, o Mónaco de Leonardo Jardim, que tem como dono o magnata russo Dmitry Rybolovlev, é o rei dos encaixes financeiros. Só até ao momento (e ainda pode haver novidades) embolsou 357 milhões (contando já com o que o PSG irá pagar - 180 milhões - por Mbappé no final da época. Mas em compras gastou até agora 102 milhões - o jogador mais caro contratado foi o avançado Baldé Keita, negócio feito ontem com os italianos da Lazio por 30 milhões. Mesmo assim os monegascos têm lucro. Em França, PSG e Mónaco, a par do Olympique de Lyon (tem um orçamento de 240 milhões) são os clubes com maior poderio financeiro, a anos luz dos restantes. Mas enquanto os parisienses vivem sobretudo da fortuna incalculável de Nasser aAl-Khelaifi, o russo dono do Mónaco tem feito milhões à custa de transferências. Em 2015--16, por exemplo, o clube já tinha encaixado 177 milhões em vendas de jogadores.
Gastos em transferências: 825,2 milhões/Encaixes em transferências: 706,95 milhões
Espanha: Gigantes espanhóis com políticas diferentes
Se o jovem francês Ousmane Dembélé (20 anos) não tivesse assinado pelo Barcelona, num negócio (o maior da história do clube catalão e o segundo a nível mundial) que rendeu 105 milhões de euros (mais 40 em variáveis) ao Dortmund, este teria sido (para já) um dos defesos em que as equipas espanholas, no seu conjunto, menos investiram. Isto muito por culpa da política de contenção do Real Madrid (sem contratações galácticas como há uns anos e até uma venda de 65 milhões de euros, de Álvaro Moratta para o Chelsea) e do facto de o At. Madrid estar impedido de inscrever jogadores até janeiro e ter segurado as maiores estrelas. Assim, o rei do mercado está a ser o Barcelona, que recebeu 222 milhões de euros com a transferência de Neymar para o PSG e gastou já 175,5 milhões em três jogadores: o já mencionado Dembélé, o brasileiro Paulinho e o defesa português Nélson Semedo. Mas pode chegar ainda Philippe Coutinho por mais de 100 milhões!
Em Espanha, os dois clubes mais poderosos vivem das grandes receitas que geram. Já o At. Madrid, nos últimos anos, assinou contratos de patrocínio milionários - no passado com o governo do Azerbaijão, atualmente com uma empresa israelita, a Plus500.
No ranking das equipas com mais receitas (bilheteiras, direitos televisivos e merchandising), da responsabilidade da Deloitte, o Real surge na 3.ª posição, com 620,1 milhões de euros, logo atrás do rival Barcelona, quase com valor idêntico (620,2 milhões). Ainda a nível de receitas, refira-se que o Real Madrid, por ter ganho as duas últimas edições da Champions, embolsou só em prémios e receitas da UEFA 160 milhões de euros em dois anos.
Gastos em transferências: 552,55 milhões/Encaixes em transferências: 672,85 milhões
Alemanha: Meritocracia na distribuição de receitas
O sistema de distribuição de receitas televisivas da Bundesliga tem como base o mérito desportivo. Os 1000 milhões do bolo de 2016-17 foram repartidos em função de quatro critérios: classificação, desempenho nas últimas cinco temporadas (70%), histórico nos últimos vinte anos e uns ínfimos dois por cento por utilização de jovens da formação.
Como é previsível, o Bayern Munique foi o que mais encaixou: 96 milhões de euros. O Borussia Dortmund não ficou longe (86,5M), porém, o vice-campeão Leipzig, promovido em 2016-17 e adversário do FC Porto na fase de grupos da Liga dos Campeões, saiu prejudicado pela meritocracia de longo prazo: apenas recebeu 28,78 milhões. Contudo, mesmo com estádios com taxa de ocupação de 91,78%, os clubes alemães têm mostrado controlo na aplicação do dinheiro. A maior compra de um emblema germânico foi Julian Draxler por parte do Wolfsburgo ao Schalke 04, em agosto de 2015, por 43 milhões de euros, uma verba irrisória comparada com os valores atualmente praticados no mercado. A propósito das loucuras que se tem cometido por essa Europa fora, o dirigente do Bayern Munique e antigo jogador do clube, Karl-Heinz Rummenigge, deu a sua visão em relação à transferência de Neymar para o PSG, que custou praticamente o mesmo do que a Allianz Arena: "Devo dizer com toda a clareza que para nós a Allianz Arena é mais importante." Visão idêntica parece ter a administração do Borussia Dortmund, que apesar de ter encaixado 105 milhões de euros com a venda de Dembelé ao Barcelona, não os aplicou de forma desenfreada na tentativa de destronar os bávaros, que são pentacampeões.
Gastos em transferências: 523,4/Encaixes em transferências: 478,35»
Fonte. dn.pt