Seleção joga no estádio mais caro do mundo
A seleção nacional joga amanhã (16.00) frente à Nova Zelândia, no estádio mais caro do mundo, o Krestovsky, propriedade do Zenit, que está localizado numa das ilhas (com o mesmo nome) de São Petersburgo, na foz do rio Neva. É um recinto moderníssimo, que será o palco da final da Taça das Confederações, construído já a pensar no Mundial 2018, mas que está envolvido em muita polémica, pois estima-se que tenha custado qualquer coisa como 1344 milhões de euros, quando inicialmente estava previsto um investimento de... 223 milhões de euros.
"Foi uma obra muito secreta, mas a verdade é que durante a sua construção os engenheiros fizeram umas cinco ou seis alterações ao projeto inicial", contou ao DN Deris, de 30 anos, que passeava com a filha no parque infantil de um dos muitos jardins da cidade. Na realidade, a construção foi iniciada em 2008, dois anos depois de o velho Estádio Kirov, de estilo soviético, ter ido abaixo, tendo sido aproveitado o mesmo local para edificar o novo recinto. Contudo, o prazo para a conclusão das obras, inicialmente previsto para março de 2009, foi sucessivamente adiado: primeiro para 2011 porque, depois de feitas as fundações, foi decidido aumentar a capacidade do recinto de 40 mil para 68 mil espectadores; o prazo foi a seguir prorrogado para 2011, 2013, 2015 e dezembro de 2016, mas acabou por ser inaugurado apenas em março de 2017.
Foram nove anos de atrasos, durante os quais houve três alterações ao projeto, derrapagens de custos e suspeitas de corrupção. "Não sei se houve corrupção ou desvio de dinheiro, sei é que houve dinheiro estupidamente mal gasto", assumiu ao DN Tatyana (nome fictício, pois preferiu o anonimato), de 28 anos, que nos últimos meses da obra foi responsável por um dos setores do novo estádio do Zenit. "Não encontro palavras decentes para definir aquilo que se passou neste projeto", prosseguiu. Aliás, a indignação é geral na cidade do Norte da Rússia, já bem perto da fronteira com a Finlândia, relativamente aos milhões gastos, como fez questão de sublinhar Deris, que não gosta de futebol e até nem se identifica com o Zenit: "Do bolso de cada cidadão de São Petersburgo terão de sair 400 rublos [seis euros] de impostos para pagar parte desta obra. Não faz sentido. Estamos todos revoltados com isso."
Governo desmente números
O ónus do pagamento de praticamente todo o projeto foi suportado pelo governo regional de São Petersburgo, que teve de assumir a obra depois de, em 2009, a Gazprom, empresa de gás e petróleo que detém o Zenit, ter desistido de suportar o financiamento. Foi a partir daqui que os gastos se descontrolaram, fazendo que o Estádio Krestovsky se tenha tornado o mais caro de sempre em todo o mundo, superando Wembley, em Londres, que teve um custo de 1317 milhões de euros.
Contudo, Igor Albin, vice-governador de São Petersburgo, desmentiu estes valores à agência russa Tass, no dia 17 de maio. "Não acredito que seja o estádio mais caro do mundo. Os custos foram normais, se forem calculados por metro quadrado. Reconheço que era possível poupar algum dinheiro, mas não foi tão caro como parece", garantiu, revelando que "o Estádio Krestovsky custou, na realidade, cerca de 43 mil milhões de rublos", ou seja, 644 mil milhões de euros, ao câmbio de ontem.
"Sei bem que é o mais caro do mundo. E olhe que já estive em muitos estádios na China e na Europa que foram feitos com muito menos dinheiro", contrapõe Tatyana, com conhecimento de causa, reconhecendo ter havido alguns problemas no início da obra relacionados com o terreno instável: "Foi, de facto, um projeto muito difícil para as construtoras, mas nós temos bons engenheiros e técnicos e nada justifica o que se passou." Tatyana, que solicitou um nome fictício por receio de retaliações, disse estar "envergonhada" e deixou um lamento: "Os cidadãos de São Petersburgo sabem da existência de problemas, mas estão longe de conhecer a verdade."
"Sei que custou muito dinheiro, mas não tenho opinião sobre isso. Não gosto de futebol... o meu patrão é que é um grande fã do Zenit, mas está agora no estádio a assistir ao Camarões-Austrália", referiu o barman Artem, de 19 anos.
Muito grande para o Zenit
Mas os problemas podem não ficar por aqui, pois para o próprio Zenit este novo e moderno estádio parece ser demasiado grande para as suas necessidades, pois até há bem pouco tempo jogava no Petrovsky, que fica a apenas a quatro quilómetros de distância, no qual conseguia criar um ambiente adverso para os adversários, pois os cerca de 18 mil lugares estavam quase sempre ocupados, algo que não acontece no Krestovsky, onde o jogo inaugural, frente ao Ural, a contar para a liga russa, contou apenas com 20 mil bilhetes vendidos - 48 mil estiveram vazios.
Há outra questão curiosa que se prende com o facto de, após o Mundial 2018, haver a possibilidade de o estádio deixar de ter o nome da ilha onde está localizado para se passar a chamar... Gazprom Arena, precisamente a empresa que deixou de financiar a obra.
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