400 mil pessoas à espera que Viseu volte ter futebol de primeira
«Três décadas depois, o Académico suspira pelo regresso ao primeiro escalão. Presidente António Albino subiu cinco vezes e garante que já recebeu mais de dez ofertas pela compra da SAD.
"A cidade está preparada para subir, Viseu está cheia de fome de bola e só falta um clique para despertar o dinossauro adormecido." É assim que António Albino, o presidente do Académico de Viseu, clube e SAD, reflete ao DN o sentimento que existe na capital da Beira Alta.
Desde a época 1988-89 que o Académico de Viseu não convive com os grandes. Nessa temporada teve assistências apenas superadas por Benfica, Sporting e FC Porto mas desceu e depois emaranhou--se em problemas, dívidas e mais dívidas que levaram esse Académico a extinguir-se e a ressurgir a partir de uma fusão com o Grupo Desportivo de Farminhão. Recomeçou nos distritais em 2007 e agora está na liderança da II Liga.
Antes ainda, em 2005, numa altura em que o antigo Académico tentava sobreviver, o empresário de jogadores Jorge Manuel Mendes tentou viabilizar o clube. "Fui adjunto do Académico em 1991, do Carlos Simões, e tínhamos 15 mil pessoas no estádio. Tentámos a recuperação financeira com um jogo das estrelas em que estiveram presentes jogadores como Costinha, Deco e Petit mas a situação era muito difícil, o clube estava desacreditado. Viseu é uma cidade bonita e interessante para se viver, situada num eixo rodoviário interessante, perto de Espanha. Cheguei a levar o Fernando Couto, o Sérgio Conceição e o Sá Pinto a Viseu para ver se eles queriam pegar no clube naquela altura em que tinham deixado o futebol e ainda não sabiam muito bem o que iam fazer", revela ao DN.
A ajuda dos empresários
Mas agora a situação é muito diferente, pelo facto de o Académico de Viseu comandar a II Liga, após 13 jornadas, com mais seis pontos do que o Leixões, primeira equipa abaixo dos lugares de promoção - o FC Porto B é terceiro mas as equipas B não podem ser promovidas. "Desde que começámos a preparar a atual temporada com o treinador Francisco Chaló que o objetivo traçado é a subida, mas não quer dizer que o consigamos. É tudo muito aleatório, mas estamos preparados para o que der e vier. À nossa volta há 400 mil pessoas à espera de futebol de primeira. Temos quase meio milhão de pessoas à nossa volta, daqui até à fronteira de Vilar Formoso não há nenhum clube de I Liga", explica ao DN o presidente António Albino, que gere um orçamento pouco mais de "um milhão de euros". E garante que tem tido ajuda. "Os empresários da região têm ajudado muito o clube, ao contrário do que muita gente pensa. Temos aqui 30 jogadores em que o clube não tem custos com alimentação ou alojamento... por isso pode perceber a paixão das pessoas em Viseu. Temos essas parcerias com a publicidade que temos no Fontelo. O orçamento é o que é, não se pode formar um plantel com sete ou oito jogadores com experiência de I Liga e pagar-lhes 500, 1000, 2000 ou 3000 euros. Não se faz morcela sem sangue", conta.
Para Jorge Manuel Mendes, o Académico de Viseu possui condições ímpares, assim consiga a promoção na atual época desportiva.
"Estamos a falar de um clube que tem tudo para ser um grande clube, um pouco à dimensão do Vitória de Guimarães. No raio geográfico entre Leiria, Coimbra, Aveiro, Guarda e Castelo Branco não há futebol de I Liga. Ou seja, o Académico de Viseu tem potencial para atrair muita gente. É certo que o Tondela está perto, mas é uma localidade mais pequena do que Viseu, que é uma capital de distrito. Na minha opinião, se subir dificilmente descerá. Tem logística, com bons campos, como já disse é uma cidade interessante para se viver, o clube tem história e tem gente. E vai ter ainda mais gente que regressará ao estádio se o clube conseguir a promoção à I Liga.
Interessados em comprar a SAD
O futebol profissional do Académico de Viseu é gerido, desde 2015, por uma SAD detida a 51% por António Albino e o seu sócio André Castro; os restantes 49% estão na posse do clube. E a verdade é que já surgiram interessados em adquirir a posição maioritária de António Albino e André Castro, que para além de acionista é também diretor desportivo.
"Se a subida à I Liga pode atrair novos investidores? Olhe já recebi para aí uma dúzia de pessoas a quererem investir na SAD mas eu quando decidir abandonar o Académico quero que fique bem entregue. Tenho 70 anos e não posso ficar aqui toda a vida, é verdade que há várias pessoas com intenção de comprar a SAD mas nenhum (silêncio)... a SAD não está em saldo, quem quiser ficar com o Académico não vai dizer que apanhou o Académico fragilizado financeiramente. O Académico está sólido, não deve nada a ninguém e por isso mesmo estamos aqui para que a subida seja um objetivo no final da época. Sou academista desde os meus 10 anos, não apareci no clube por acaso, apareci quando alguém lhe fez muito mal", reitera António Albino.
Fontelo, um símbolo do distrito
Como é sabido, a seleção nacional defrontou na quinta-feira a Arábia Saudita no Estádio do Fontelo, propriedade da Câmara Municipal de Viseu.
"O Fontelo precisa de melhorias, de muitas melhorias. Andamos há uma série de anos a alertar para essa necessidade e a verdade é que já foi melhorado substancialmente. A câmara percebe isto tudo mas temos de ter essas condições. Terá de ser a câmara a melhorar tendo em conta as exigências da Liga, até porque o Fontelo é um símbolo do distrito. Mas atualmente há outros estádios piores na I Liga, isso garanto-lhe. Quais? Isso queria você que eu lhe dissesse", realça António Albino, empresário de Comércio e Indústria, com uma sonora gargalhada a acompanhar.
Academista e... benfiquista
António Albino não o tenta esconder. Quando lhe perguntamos se o Académico é o único clube pelo qual o seu coração torce, não entra pelo politicamente correto.
"Olhe sou 500% academista e 100% benfiquista, mas jogando um contra o outro nem há dúvidas, quero que o Académico ganhe", garante, para depois sustentar que nunca teve "ajuda dos clubes grandes". Contudo, para o futuro, não descura essa possibilidade porque "o pobre está sempre aberto a qualquer tipo de ajuda".
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