Gelson Martins: futebol de rua
Vai ser uma das grandes estrelas do derby eterno! A história, do DN, de como tudo começou para Gelson Martins:
Nasceu na cidade da Praia, Cabo Verde, a 11 de maio de 1995, tendo crescido sob o olhar atento e cuidado de uma tia, pois bem cedo os pais mudaram-se para Portugal, mais concretamente para a Amadora, à procura de trabalho e de uma vida melhor.
Sempre foi um miúdo bastante tímido, que se transfigurava com a bola nos pés. O gosto pelo futebol começou a ser adquirido na rua, nos tempos em que participava nos jogos entre bairros na Praia, sempre na companhia do irmão Vítor Martins, seis anos mais velho, que também seguiu a carreira de futebolista, embora sem a mesma dimensão. De todos, Gelson era o mais pequenino, de aspeto frágil, mas de longe o melhor com a bola. Queria imitar Robinho, o então craque do Santos, que se habituou a ver na televisão cabo-verdiana, que na altura transmitia os jogos do Campeonato Brasileiro. "Tentava imitar cada gesto, cada toque. E era rápido como ele. Fintava os outros rapazes na rua, driblava pedras e até vasos", contou Gelson ao DN, numa entrevista em 2015.
Aos oito anos, a vida do menino de Cabo Verde mudou, viajou para Lisboa para finalmente se juntar aos pais no bairro da Venda Nova, na Amadora. Mudou a vida, mas o gosto pelo futebol manteve-se, mas apenas depois da escola e de ter feito todos os trabalhos de casa... eram essas as recomendações dos pais, cumpridas à risca. Apesar do gosto pela bola, quiseram "desviá-lo" para o atletismo, tendo mesmo chegado a fazer corridas de fundo e meio-fundo. Só que, aos 12 anos, um amigo quis que aquele talento com a bola fosse aproveitado e levou-o aos treinos de captação do Clube Futebol Benfica, o popular Fofó.
"O Gelson tinha 12 anos e foi treinar com os iniciados. Eu estava com outra equipa na outra metade do campo e, de repente, o meu adjunto veio chamar-me para ver o que um miúdo andava a fazer no campo. Era o Gelson, fintava os outros miúdos com uma facilidade fora do normal. Via-se logo que ele era diferente. A bola parecia a continuação dos pés dele", recorda ao DN Tiago Correia, o primeiro treinador do menino de Cabo Verde no Futebol Benfica.
Só que não foi fácil mantê-lo no Fofó. Gelson tinha outro tipo de solicitações. "As captações foram em setembro e poucos dias depois disse-me que preferia ir para o futsal do Sporting. Mas lá o consegui convencer a ficar connosco até dezembro, com a condição de, depois disso, o deixar ir para o futsal se ele não gostasse do futebol de 11... nunca mais falámos sobre esse assunto", recorda. Gelson ganhou o vício do futebol e nem o facto de ter de ir de autocarro para os treinos, sempre na companhia de dois colegas de equipa, o desmotivou.
Aos poucos foi ganhando fama. Rafael Oliveira, que partilhava o balneário da equipa de juvenis com Rúben Semedo, atualmente também jogador do Sporting, recorda ao DN que "era habitual irem ver os iniciados só para ver o Gelson treinar ou jogar": "Tinha aquela ginga do futebol de rua." Depressa os olheiros dos grandes clubes se aperceberam de que estava ali um craque em potência. Benfica e Sporting já estavam de olho nele.
"O Gelson deu nas vistas logo no primeiro jogo que fez pelos iniciados do Futebol Benfica no campo do Operário de Lisboa, e uma pessoa do Sporting veio logo saber informações sobre ele", revela ao DN Tiago Correia, acrescentando que o passo decisivo acabou por ser dado num jogo frente ao... Benfica, em 2011. "O Gelson marcou dois golos e depois do jogo foi logo para o Sporting", lembra aquele que foi o primeiro treinador do extremo, que não esconde o orgulho de "ter treinado um dos melhores jogadores do mundo".
Gelson Martins mudou-se para a Academia de Alcochete e o Fofó recebeu de imediato mil euros. O miúdo renderia ainda mais 32 mil euros: dois mil quando subiu aos juniores e 30 mil após completar cinco jogos pela equipa principal do Sporting. Agora vale... milhões.
Um miúdo tímido e respeitador
Um dos atributos que mais impressionou Rafael Oliveira foi o facto de Gelson ter "uma atitude sempre positiva, que contagia os outros", uma faceta que resulta, em sua opinião, da "grande humildade" que o caracteriza.
Tiago Correia recorda mesmo um episódio que revela bem a personalidade respeitadora do extremo. "Houve uma altura, num final de época, em que o notava em baixo, o nível dele em campo tinha baixado bastante e fui falar com ele para saber o que se passava. Disse-me então que estava um pouco cansado porque na escola participava num torneio interescolas. Pedi-lhe para não o fazer porque o estava a prejudicar e, a partir desse momento, voltou ao normal", lembra, convicto de que respeitou o conselho que lhe deu na altura.
Aliás, o respeito e a responsabilidade foi algo que lhe foi incutido pela educação familiar e ainda hoje é um traço que se destaca em Gelson Martins. Talvez por isso, essa faceta se tenha refletido sempre em campo, pois mesmo quando era alvo de entradas mais duras por parte dos jogadores adversários nunca protestava. A timidez de Gelson também poderá contribuir para isso, pois quem o conhece de perto garante que nunca foi de muitas falas, preferindo expressar-se com uma bola nos pés.
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