A guerra para garantir Eusébio... ou Ruth
Com dinheiro ou canetas de tinta permanente, um luxo na altura, o Sporting ia controlando o negócio até que o Benfica passou à ação: Mário Tavares de Melo e o major Rodrigues de Carvalho, mandatários dos 'encarnados', foram a casa do jogador, falaram com a progenitora, explicaram o que queriam para o filho e logo aí passaram para a dianteira das negociações. Pelo trato, pelo respeito, pela atenção, não pelo dinheiro - mesmo quando o Sporting dobrou os 250 contos oferecidos pelo rival, a decisão já tinha sido tomada.
Reuniões e telegramas secretos
No entanto, resolvida que estava a 'aprovação' da mãe, as atenções viraram-se para o plano que trouxesse Eusébio para Lisboa. Houve reuniões secretas ou semi-clandestinas, informação e contra-informação. E mais histórias.
Após uma noite inteira em lágrimas porque não poderia passar o Natal de 1960 com a família, Eusébio viajou a 17 de dezembro para Lisboa como Ruth, com th, um nome mais 'aristocrático' que desviaria a atenção de qualquer interessado em desviar o 'Pantera Negra' para outro clube. À chegada, além dos representantes do Benfica, estavam apenas dois jornalistas. "Não gosto de jogar a avançado-centro", disse antes de rumar ao Lar do Jogador, onde passou a primeira noite na metrópole.
Da notícia falsa ao exame da 4ª classe
Eusébio andava maravilhado com a nova vida por Lisboa, com o clube, com os novos companheiros, com o "senhor Coluna", que ficaria como tutor do jovem moçambicano. Só não gostava de uma coisa: o frio. Mas, com o tempo, até isso conseguiu superar. O que não conseguia mesmo era começar a jogar oficialmente pelo Benfica.
Entre recursos e contestações, o jornal "Notícias de Lourenço Marques" escreve, em fevereiro de 1961, que o volte-face estava conseguido: Eusébio estava a caminho do Sporting. Nem assim o Benfica mudou a sua postura, convicto que a 'verdade' iria prevalecer. No entanto, acabou por enviar o jogador 12 dias para Lagos, longe de 'influências' leoninas.
No final da novela, e mediante o pagamento de 400 contos, Eusébio foi inscrito e o Sporting Lourenço Marques enviou a documentação necessária para fechar o processo. Até porque, entretanto, o 'Pantera Negra' tinha completado o exame da 4ª classe, outra condição exigida.
Não foi milagre mas podia ter sido: a 13 de maio de 1961, Eusébio era do Benfica. O resto é história. Com toda a lógica.
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